domingo, 5 de junho de 2011

                               e depois , então,
                              que conquistar o ultimo desafio
                              quando aprender a voar
                              quando achar que já tem tudo
                              o que vai querer depois ?

sábado, 14 de maio de 2011

GUIA DE SOBREVIVÊNCIA

1. Organize-se antes que eles despertem!
2. Eles não sentem medo. Por que você deveria?
3. Use sua cabeça: corte a deles.
4. Lâminas não precisam ser recarregadas.
5. Proteção ideal: roupas apertadas, cabelos curtos.
6. Suba a escada, mas destrua ela depois.
7. Saia do carro, suba na moto.
8. Mantenha-se em movimento, fique escondido, fique quieto, fique ...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

                                                 AVISO

Se você está lendo este aviso, então isto é para você. Cada palavra lida deste texto inútil é um segundo perdido da sua vida. Você não tem nada mais para fazer? Sua vida é tão vazia que não consegue vivê-la melhor? Ou você está tão impressionado com a autoridade que você respeita em todos aqueles que a exercem em você? Você lê tudo que deveria? Pensa tudo o que deveria? Compra tudo que lhe dizem para comprar? O quê você faz para melhorar sua cidade, seu país, seu mundo? A política está em crise, afogada na corrupção e você não faz nada? Saia do seu apartamento. Encontre alguém do sexo oposto (ou como queira). Pare de comprar e de se masturbar tanto. Peça demissão. Comece a brigar. Prove que você está vivo. Seja a mudança que deseja ver no mundo, ele não precisa de você para ir mal! Se você não fizer valer pelo seu lado humano, você se tornará apenas mais um número. Você foi avisado... O Cínico




Prefiro ser ‘uma’ metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...

Espelho

O relógio digital mudou seus números, indicando quinze horas, seguido do som da rádio local. Ao ouvir a música, abafada pelo chuveiro, John fechou o registro e começou a preparar-se.

Minutos depois, fazia o nó da gravata vermelha, sua cor preferida, enquanto assoviava. Era um homem comum, com pouco mais que cinqüenta anos, de cabelos levemente grisalhos e barba bem aparada.

Era um dia decisivo, pois seria julgado mais uma vez. Já havia perdido a conta das vezes em que estivera em um tribunal e sempre, por astúcia própria, conseguia se safar. Encarou seu reflexo no espelho e quando sorriu para si, confiante que tudo daria certo naquele dia, sua imagem não retribuiu o gesto, fazendo-o erguer a sobrancelha, espantado.

- Você... – murmurou, lembrando-se do passado, cerca de trinta anos atrás.

Era outro quarto, de uma casa bem maior, na qual uma vida promissora iniciava-se. Elizabeth havia engravidado antes de completarem um ano de casados e, por ser o primeiro neto de ambos os lados, causou grande euforia nas famílias. Por volta do oitavo mês de gestação, John teve dificuldades em dormir, pois Beth como a chamava, mexia-se bastante durante a noite. E numa das diversas madrugadas perambulando pela casa, revelou à penumbra seus anseios... Havia casado jovem e estava prestes a ser pai. Suas noites de aventuras com os amigos haviam acabado. Não haveria mais a emoção de pisar fundo e ver o velocímetro atingir seu limite ou levar para a cama as maravilhosas beldades que poderia conquistar. Era o fim daquela vida.

Quando retornou ao quarto, sentou-se à frente do espelho e encarou-se, procurando em seu semblante o homem que deveria tornar-se. Apenas a fraca luz do abajur iluminava o quarto. A temperatura havia baixado, apesar das janelas fechadas.

Sua esposa moveu-se inquieta, chamando sua atenção. Mas quando voltou seu rosto para observá-la, notou pelo espelho que um vulto acariciava sua barriga. Levantou-se assustado e procurou pelo quarto, sem nada encontrar. Olhou para o espelho novamente. Estava ofegante, sentindo o coração bater fortemente. Vasculhou novamente o quarto e nada encontrou.

- Preciso dormir... - pensou.

Sentou-se novamente, temeroso em olhar no espelho. Deixou as sandálias de lado e riu de si próprio. Não se conformava em estar com medo de encarar o próprio reflexo. Permaneceu ali, imóvel, decidindo se deitaria rapidamente e cobriria a cabeça ou se levantaria os olhos e encararia seu medo. Por fim, olhou no espelho.

- Minha Nossa! – ergueu a voz ao ver que seu reflexo estava de pé, apoiado com os braços no vidro, encarando-o.

- Não é para tanto... – respondeu o reflexo. E olhando por cima dos ombros, para a mulher grávida, aconselhou: - Baixe a voz, são três da manhã... Você não quer acordá-la.

John levantou-se pasmo. A abordagem o acalmara estranhamente. Caminhou até o espelho e permaneceu ali, paralisado.

- Por favor, permita-me apresentar-me... – sussurrou o reflexo.

- Sim... – respondeu quase sem voz.

- Sou um homem de riquezas e muito bom gosto. Ora... Sou você! Sua outra vida... Sou aquilo que você perdeu. – continuou.

- Eu perdi para ganhar... – respondeu John, considerando-se maluco por falar consigo mesmo.

- Claro... Você está bem. Está feliz. Não há razão para eu estar aqui, você não quer saber como seria a noite de hoje, na sua outra vida... – o reflexo insinuou que partiria, se é que fosse possível fazê-lo.

- E como seria? – John incentivou-o a continuar.

- É difícil explicar... Mas, coloque sua mão na minha e terá sua amostra grátis. – o reflexo sorriu, estampando a mão no vidro.

John hesitou. Pensou nos seus anseios e disse a si mesmo que não tinha nada a perder com aquela loucura. Como seria sua vida se não tivesse feito um juramento de fidelidade com Beth? Respirou fundo e, hesitante, tocou a mão na de seu reflexo. Nada aconteceu.

Seu reflexo sorriu e sentou-se na cama, observando-o. John encarava-o com expressão confusa. Quando resolveu dizer algo, uma voz suave chamou-o:

- Vai nos deixar esperando, John?

Quando se virou, engoliu em seco: Duas mulheres maravilhosas, em trajes provocativos, decoravam sua cama. Encarou seu reflexo, aguardando instruções.

- É sua vida, garoto, quando terminar basta me chamar e tocamos as mãos... – disse o reflexo, deitando-se. – Se quiser, poderemos fazer isto por algum tempo... Mas o que vai fritar seus miolos é a natureza do meu jogo.

Assim havia ocorrido e John ignorara o comentário. E na noite seguinte repetiu-se. Através do espelho, John teve acesso à vida de que havia abdicado. Durante o dia, vivia com Elizabeth. À noite, tinha livre acesso a seus desejos mais profundos.

Com o avanço da gravidez, Elizabeth teve seu humor alterado e, com o sono acumulado, algumas desavenças começaram a ocorrer. Era fácil dormir de dia para escapar dos incômodos diários e, durante a noite, experimentar sua outra vida. No dia em que uma discussão inflamou-se e Elizabeth fora esfriar a cabeça na casa de sua mãe, John esperou ansioso até que o relógio marcasse três da manhã.

Ela havia exagerado nas palavras e ele, ofendido, não via a hora de encher a cara e esquecer daquela vida. Mas quando o relógio mudou seus números e o reflexo moveu-se por conta própria, somente John colocou a mão no espelho.

- Vamos! - pediu com olhos marejados.

O reflexo moveu a cabeça negativamente.

- O que foi? - John irritou-se.

- As regras mudaram... - declarou o reflexo, irredutível.

- Como assim, regras? Nunca houve regra alguma... - revoltou-se.

- Como não? Você sempre teve que segurar na minha mão para vir para meu mundo. – respondeu o outro, abrindo os braços.

- E o que devo fazer agora?

- Acalme-se... – o reflexo ergueu uma sobrancelha, observando-o. – Chega uma hora em que você tem que se decidir... Ou realmente acreditou que viveria duas vidas para sempre?

- Já me decidi! – John forçou a mão contra o espelho. - Vamos logo!

- Não quer pensar um pouco? – perguntou o reflexo, aproximando-se.

- Tive um pouco de cada vida nas últimas semanas... Já pensei por tempo suficiente. – respondeu.

- Você é quem manda, garoto. Lembre-se de que não tem volta.

- Toque minha mão! – ordenou John .

- Desta vez, você precisa cortá-la. Tem que ter um pouco de sangue, para mostrar que você realmente quer isto. Regras... – o reflexo riu.

John deu um passo para trás e procurou pelo canivete nas gavetas, pegou-o e cortou a mão. O reflexo seguiu seus gestos impecavelmente. Os dois caminharam, estenderam os braços e tocaram-se.

O telefone tocou, fazendo-os olhar em volta, confusos. O reflexo afastou-se, atendendo a ligação.

- Alô? Oi, sogra! Ah é? Claro... Claro... Estou indo!” - desligou o telefone e levantou-se apressado.

- O que aconteceu? – John perguntou do outro lado do espelho.

- Meu filho está nascendo! – relatou o homem. - Mas isso não é mais da sua conta garoto.

- Como assim?

- Tá vendo o sangue no espelho? Você deixou esta vida. Sua alma agora pertence ao outro lado... O melhor é curtir, hein.

- Mas... O que eu faço agora?

- As mulheres estão aí... – o reflexo lembrou-o, antes de fechar a porta.

– O complicado é que depois de um tempo, ficar sempre olhando para este quarto enjoa.

- Você... – John voltou a si, deixando a viagem no tempo para trás. Sorriu novamente para o espelho e murmurou:

- Ninguém melhor do que você para saber que não quero conversa com meu reflexo, mas vou explicar novamente: Já faz trinta anos... Pare de ficar nos olhando. Eu quero dormir em paz com sua mulher e brincar sossegado com seu filho e os meus outros dois diabinhos. Um homem quer privacidade...

- Demônio! – O reflexo exaltou-se, batendo os punhos contra o vidro.

- Não é disso que sua esposa me chama...

- Demônio! - John batia os punhos contra o vidro.

- Preciso ir... Minha vida anda um pouco conturbada... – John afastou-se e, após apagar a luz, declarou:

- Aproveite as mulheres... Este corpo já não é o mesmo. Acho que logo nosso pacto se consumará.

Muriel Lobato

sábado, 23 de abril de 2011

20 de Abril

Estou pronto a fazer seis juramentos falsos todos os dias.
(Adolf Hitler)

14 de abril de 1945,Berlim 6:45, o relógio não para de tocar, levanto-me zonzo com os olhos ainda flutuando na vaga zona do sono. Ando em direção ao banheiro,chove muito lá fora .As aguas inundam os buracos feitos pelas bombas que provavelmente vieram do URSS, se misturando com o sangue de muitos inocentes .
Me apoio na pia de um qualse banheiro ,e olho em meus olhos através de um espelho quebrado. O telefone toca ,estou mas que atrasado para o trabalho.
Não aguento, mais um dia assim, ao dormi, crio uma imagem de minha morte, “será que amanhã eu irei fazer isto novamente”,mas enfim ,lavo o meu rosto com a lama que sai da torneira enferrujada, ando em direção a porta do cômodo,quero me livrar deste suplicio maldito, antes de rodar a maçaneta, viro-me em um ângulo de 180° para antes guardar em minha memoria uma lembrança dos momentos vividos ali, ponho as mãos no bolso de meu velho casaco marrom, para verificar ,se está lá, mas logo me aliviei , ainda permanece lá ,sua hora de ser usada está se aproximando.
7:45 saio para nunca mas voltar. Ando em um lugar que antes me parecia uma rua ,o som grave de um provavelmente caça alemão fw-190, está se aproximando. Hoje o dia está mas frio que o normal .Há pessoas perambulando nos destroços de Berlim, chorando é lamentando ,concluo que foram esquecidas por eles, penso em me unir a essas pobres almas, mas na verdade eu sou dono delas, querendo ou não. Enfim chego ao local esperado, as ruinas prevalecem, estou em um constante desanimo.
13:45,tarde muito tarde, hora de refugiar-me ,com os outros, ouço eles chegando ,são piores que bombas, arrasando com meus ouvidos, é uma ancia sem explicação ,não sei se irei conseguir ,desta vez, a fraqueza inunde o meu pensar a minha razão. Penso em desistir ,mas é isso que eles esperam de min, não vou deixar isto acabar assim.
O céu está mais negro com relação a ontem ,meu Deus e hora de partir ,corro em direção ao que antes poderíamos chamar de hospital foi o único lugar que restou para min, o pior de todos, está escuro,como a maioria dos monumentos desta cidade, Ponho a mão no bolso de minha farda é retiro a lanterna velha , mais ainda funciona é isso que importa,empurro a porta principal que solta um barulho estrondante ,lá dentro está mas frio que antes .Não pude parar de percebe ,eles estão me observando ,percebi tarde de mais .Corri em busca de refugio,fui lento e eles me golpearam pelas costas tentei fugir ignorando a dor que percorria em meu corpo, mas fui atingindo na perna,uma coisa eu estava certa, eles me queriam vivo.


Da Bomba atômica á bomba humana.


Os episódios se repetem sem que os homens se corrijam e tenham as precauções necessárias para evitar tais surpresas. E foi assim que, por descuido, fui colocado diante do perigo de vida ou morte naquela noite de três para quatro de fevereiro de 1945.

O elevador


Elevador
A portinhola se abriu com um ruído metálico que fez quebrar o silêncio. Um prato, com uma porção amarelada e gosmenta, e um caneco velho de alumínio cheio de água, deslizaram para dentro do elevador. O rapaz de terno e gravata amarrotados estava encostado no canto quando viu o alimento chegar, e apressou-se:
- Espera! Me tira daqui... – a portinhola foi novamente fechada com um novo estrépito ensurdecedor.
– Seu desgraçado! Isso não tem graça! Eu vou te matar! Vou te matar! Vou te...
a voz do rapaz começou a falhar, enquanto ele escorregava no canto e sentava no chão, observando a tigela e o copo parados na sua frente.
Houve um grito de agonia e, violentamente, ele tacou a tigela na parede do elevador, fazendo escorrer a gosma que dilatava bolhas. Em seguida ele se levantou cambaleando e chutou a caneca, espirrando água para todos os lados e molhando a barra de sua calça azul-marinho. Estava preso dentro de um elevador. Não sabia por que estavam o prendendo ali. Tudo que se lembrou foi de estar saindo de casa e, ironicamente, ter entrado no elevador do 14° andar. E isso foi tudo. Ninguém. Nenhum vestígio. Nada. Agora estava preso. Os botões, assim como o alarme, não funcionavam. Há quanto tempo estaria ali? Quantas horas? Ele perdeu a noção do tempo, mas visto que o tédio triplica a agonia da espera, não deviam ter passado mais do que alguns minutos. Céus! Se não fosse claustrofóbico, então passaria a ser. Era desesperador ter menos de um metro à frente. A pequena hélice de ventilação girava inocente e agourenta no teto. A forte luz branca intensificava os detalhes da sujeira espalhada pelo chão. As paredes chapadas, sem espelho, brilhavam ao mesmo tempo em que refletiam a tosca imagem do jovem encurralado. Houve um silêncio modorrento, depois um baque estrondoso, seguido por sucessivas pancadas incessantes. O garoto esmurrava a porta do elevador, como se sua vida dependesse não da abertura desta, mas da altura da algazarra que ele produzia. Com os punhos fechados, ele socou as paredes durante horas, ao que estas ficaram ligeiramente amassadas, mas ainda assim intactas. Passados, o que pareceram milênios de prisão, ele, suado e ofegante, chutou com força a porta, tentando a todo custo abri-la, profanando injúrias para o nada. Em vão. As mãos sangrando deixavam manchas nas paredes do elevador. A porta de ferro estava arranhada, ainda com pedaços de unhas inteiras grudadas em meio ao sangue e mingau amarelado, agora seco e áspero. Os braços dele doíam demasiadamente. Tinha a estranha sensação de que havia quebrado. E ao levantar a manga da camisa, para seu horror, deparou-se com a pele fraturada por um osso branco, coberto por uma grossa cartilagem. O sangue jorrando contra a pele.
O urro de dor que ele soltou foi mais alto do que a soma de todas as suas batidas. Ele escorregou no próprio sangue e se encolheu, contorcendo-se. O nariz tocando o chão, empapado de suor. Segurando o braço firme com a outra mão, levou a manga da camisa até a boca, rasgando e enrolando o tecido no braço, tentando inutilmente estancar o rio que jorrava de seu ferimento. Com um novo berro que exalava tortura, apertou o nó o máximo que pode, fechando os olhos e mordendo a camisa com tanta força que sentiu a língua sangrar. Foi quando ouviu uma voz eletrônica soar do interfone de emergência:
- A sua alma está sendo lavada, Sr. willy. – anunciou a voz robótica, seguida por um chiado e, então, o silêncio reinou novamente.
- Quem é você? Quem é você, miserável? – gritou willy, tentando se por de pé, lutando contra a dor lancinante que consumia seu braço.
Mas não houve resposta. O silêncio reinou nos próximos minutos e nas próximas horas e ao que pareceu um dia inteiro. Sentado no chão imundo, segurando o braço ferido, Willy foi surpreendido por um novo estalo e outra tigela escorregou pela portinhola. Ele se aproximou e examinou o alimento – uma espécie de pão com água, numa mistura pastosa, enchia a tigela, derramando pelas bordas. Num súbito movimento, que nem ele compreendeu, mas apenas seguiu seu organismo, ele virou a tigela na boca, enchendo-a o máximo possível e engolindo a mistura aos montes. Engasgou e tossiu descontroladamente, a pasta caindo pelo canto dos lábios. Algo revirou seu estômago e ele vomitou toda a mistura de volta no prato, caindo com o rosto dentro da tigela. Agora ele chorava.
- Seu cretino! – choramingou ele, num tom que lembrava dor e súplica – Seu maldito!
Aos poucos suas palavras tornaram-se inaudíveis para si mesmo e, ainda com o rosto colado no chão, ele desmaiou – em meio a uma mistura líquida de vômito, sangue e pão.
Os dias se passaram e por diversas outras vezes a portinhola se abriu para liberar – hora uma caneca com água, hora a tigela com o mingau de pão amarelado. A dor no braço só aumentava e, consumido por uma insuportável febre, Willy não havia falado mais nada desde então. O curto espaço fez-se menor conforme aumentavam o número de tigelas e canecas amontoadas à imundície espessa, que tornava impossível de se respirar. O frio agora congelava cada célula de seu corpo quebrado. A dor se transformou numa espécie de transe funesto, psíquico, surreal... O tédio o consumia por completo. Não o tédio dos homens, o tédio da vida – mas o tédio da morte, o tédio do desespero insuportável. E o silêncio feroz o fazia ouvir o barulho do ar, como a turbina de um avião em decolagem. Do teto se projetavam sombras escuras, ocultas, sem forma ou sentido. Como se asas da morte pairassem suaves e lúgubres, como abutres ávidos pelo banquete, brilhando em um veludo negro e transparente de reflexos prateados, que se alimentavam de sua alma. A porta do elevador se abriu, e Willy, que gemia inconsciente, sentiu o ar lhe invadir os pulmões como se mergulhasse num lago profundo.
- Que sujeira... – soou a voz de uma mulher, formalmente vestida, chutando uma tigela para longe e tapando nariz, enojada.
- Por favor... Me ajude... – disse o rapaz em situação deplorável, estendendo a mão como uma criança em perigo.
A mulher riu.
- Não posso ajudar você... – ela esboçou uma falsa tristeza
- Por que eu deveria ajudar você? – ela pôs a mão na cabeça pensativa.
- Por fav...
- Você não ouviu a palavra de Deus, Willy, não procurou nosso Senhor quando ele precisou de você. Lamento, mas foi muito errado você ter negado Jesus em sua vida. Deus é maravilhoso...
- ela abraçou a si mesma, fechando os olhos e sorriu satisfatoriamente como uma psicopata.
Willy se arrastava para fora do elevador.
- Você trilhou o caminho do Diabo, buscou o que era errado pra sua vida... Eu sempre lhe disse... Agora ela levava as mãos à boca, chorando lágrimas que não caíam.
- O que diria seu pai quando soubesse disso, Sr.Willy? Sobre você e esse outro rapaz... Com tantas moças bonitas no mundo... O que diria quando soubesse que eu gerei um fruto sujo de Satanás? Oh, Deus, me perdoe, Senhor, me perdoe, meu pai.
As palavras iam o atingindo como facadas perfurando a fratura em seu braço, agora onde pousavam moscas e rastejavam vermes esbranquiçados. Ele continuou tentando se arrastar para fora do elevador.
- Você traiu as leis de Deus, você optou pelo inferno... – continuou ela, se postando de frente pra ele, obstruindo a passagem.
- Por favor...
Ela saiu de dentro do elevador, chutando outra vasilha entranhada de vermes e moscas. Agora seus olhos estavam marejados e seu sorriso apresentava uma leve satisfação.
- O que... O que você sente por aquele rapaz não é amor. Não é . Deus jamais aceitaria isso. Isso é artimanha do Diabo.
- Eu o amo, mãe... – Lágrimas caíram desesperadas de seu rosto, não pela dor física, mas sim pelo o que estava sentindo por dentro.
Willy se arrastou pela porta, mas ela o chutou de volta para dentro e ele tombou com um urro de dor.
- Você não é meu filho.
Houve um estrépito e a porta do elevador se fechou brutalmente, mergulhando descontrolado aos andares abaixo. Willy gritou, a luz se apagou e tudo o que ele sentiu foi o mergulho rumo à escuridão, rumo ao destino final ,trevas, dor e a inexorável visita da morte.

Além da imaginação


Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo homem. É uma dimensão provida de tempo quanto ao infinito . É o espaço intermediário entre a luz e a sombra , entre o abismo dos temores do homem e o cume dos seus conhecimentos . É a dimensão da fantasia...uma região além da imaginação